29 de março de 2008

Por onde andei

Saudações, saudações meia dúzia de leitores assíduos deste blog empoeirado. Devem estar se perguntando, onde ele se meteu que não atualiza mais essa porra?

Pois bem. Eu gostaria de me justificar, pois eu estava viajando, fazendo a divulgação do meu mais novo filme. Que o meu bilhete da loteria esportiva teve catorze acertos e estava gastando a grana. Que o meu filho nasceu. Eu fui recrutado pela Liga da Justiça pra resolver os problemas diplomáticos de uma guerra intergalática entre Saiyajin e Skrulls na Terra 2. Estava tomando aulas de pilotagem, terminando o meu mais novo romance sem final feliz. Estava esquiando em Bariloche. Eu morri, desencarnei, conheci o inferno e vi que ele parece muito com um bar de Londrina. Estive absorto no trabalho. Entrei numa viagem transcendental com alguns vizinhos marroquinos. Fui até Aparecida de joelhos. Marquei o gol na final do campeonato alemão de Blumenau. Montei uma banda de Blues, mas não aguentei a pressão do estrelato. Fui de bicicleta até Cambé. Estive preso, mas não tinham provas e me soltaram. Namorei três mulheres diferentes ao mesmo tempo e todas queriam ter um filho meu. Perdi a minha carteira. Esqueci de avisar. Cantei aquela garota ruiva do meu trabalho. Fiquei doente. Fui à fazenda, plantei algumas mudas, agora devem estar grandes, as sementes devem ter brotado. Olhei as rolinhas nos fios de energia e lembrei do Quintana. Assisti a vários filmes, dormi na metade de outro tanto. Fui bombardeado por raios cósmicos e asas nasceram nas minhas costas. Injetei morfina na veia. Acordei no Vietnã. Ainda bem que Chuck Norris estava do meu lado. Desisti de todos os russos. Densos demais pra quem tem dda. O que vocês queriam? Um tratado explicando metafisicamente por onde eu andei? O que interessa é que voltei. 

Agora, com licença, vou cagar...

28 de março de 2008

Semisustos


Depois de certo tempo, pareciam dois estranhos. Num encontro casual, semisustos de ambos os lados. Ele havia feito a barba, ela pintou o cabelo como sempre disse que queria fazer, mas nunca fez enquanto estavam juntos. No meio da multidão no bar, "tudo bem?", a troca de olhares quase proibida e não espontânea como antes. Haviam perdido a intimidade, ela não sabia mais dos livros que ele estava lendo, ele não sabia que ela finalmente estava fazendo as aulas de inglês. 

A música alta que vinha da boate impediu qualquer tentativa de diálogo, no passado talvez se tornasse mais uma das músicas deles, esta noite, nunca mais. O beijo frio no rosto decretou o fim do reencontro, triste e efêmero como a madrugada dos vagabundos. Qualquer dia alguém vai escrever esta história do jeito que cada um viu. Falar do amor que ele tinha, do medo que ela guardava, do ressentimento deles, da inocência sendo maculada pouco a pouco pela fórmula açucarada e grudenta dos dias que passaram, premeditando tudo como aconteceu hoje. Um carnaval mudo, sem estampidos nem confissões de amor.