20 de maio de 2008

Invasão!


Tudo começa com um pequeno surto, paranoia que pode surgir de barulhos desconhecidos e vai seguindo adiante. No semáforo, esperando um ladrão pular com uma arma na mão e me matar. Segue comigo até o trabalho, balançando a carta imaginária de demissão presa à cauda. O problema é que eles podem emular a aparência de qualquer pessoa, da mulher amada ao melhor amigo ou o seu cachorro. Não me sinto mais seguro em lugar nenhum, exceto quando estou só, como agora. Escrevo da minha fortaleza da solidão, onde esses Skrulls malditos não irão me alcançar. E ficarei por aqui, até que eu saiba em quem  possa confiar.

13 de maio de 2008

Desmantelar


Raramente protagonizaram cena tão sofrida, os dois fatigados pelos anos de convivência, finalmente vencidos, mas não poderíamos dizer que não havia mais amor ali. Cheios de aflições mútuas, ambos apresentavam diversas cicatrizes, marcas do que não foram ou do que poderiam ter sido, caso não houvessem preferido um outro caminho, que agora os colocava frente a frente, momentos antes da separação, ele com a mala pronta na porta do apartamento:

- Não dá mais, chega!
- Eu que o diga, meu caro. Acha que estou feliz assim, aguentando o seu destempero?
- Você é uma Santa? Como se apenas eu fosse o grande culpado de tudo, sempre! Cansei!
- Não te culpo por tudo. Na verdade só me culpo por ter me casado com você, maldita a hora!
- Culpa da tua mãe, que fez questão! Aquela vaca. Como eu fui burro!
- Pelo menos ela não é alcoólatra nem tem conta no bar!
- Estou indo embora, não quero mais olhar pra tua cara!
- Espera, não sai assim, está chovendo lá fora... Eu te amo, droga!

E ele disse que gostava dela como o diabo gostava do seu caldeirão, depois bateu a porta e partiu.

1 de maio de 2008

O que se salva


Frio e chuva, pés molhados, meias molhadas, tênis molhados e mais chuva! Roupa molhada, carro molhado, cachorro molhado, cabeça quente, sem guarda-chuvas. Muita coisa fria e molhada. Pessoas molhadas e frias. Só o que se salva são essas luzes atrevidas deslizando pelo asfalto, no espelho de água que se formou sem nenhuma permissão pela noite.