8 de junho de 2012

COMUNICADO

Mais rápido do que eu possa descrever, incondicional como a cortesia ao doente terminal, são os escombros que não nos saem de cima, fumaça e desastres em série, seja no canal pago ou na TV aberta.

Terrorismo, calafrios e seleções brasileiras com seus horríveis laterais que não acertam um cruzamento sequer, turnos de oito que horas acabam com a nossa vontade, viramos formiguinhas condicionadas ao esquema tático de um dos anões da Branca de neve ou de Brasília ou tanto faz.

Será que merecemos tanto? Nem sim nem não, talvez a resposta não esteja tão próxima, vamos ter é que aguardar o final da pesquisa. Precisamos conhecer a palavra que mais se encaixa ao contexto. No mínimo mais dez anos. Richards também estava trabalhando nisso, mas não sabe se vai terminar, anda com a pulga atrás da orelha. Viu no que deu ser o marido da mulher invisível?

Descuidos oportunos, jazz de miséria improvisada pelos políticos safados que fazem a gente acompanhar a bateria louca de impostos, intimações, desmandos e restrições, haja fôlego, hein, seus filhos de uma puta? Será que nunca vão sair de cima do nosso lombo?

Virem esse disco, seus porras! Eu tô querendo a minha parte e tem que ser agora seus merdas, não espero nem mais um dia. Senão eu vou até aí e acho vocês e meto o pé, está entendido? Vou dar um tiro no meio dos seus cus!

Vocês estão me ouvindo?

Atenciosamente,

Ilsson Siriani

2 de junho de 2012

O homem que virou notícia


Saiu do açougue em um dia normal, como tantos outros o são. Não esperava muito mais da vida do que a sua ração mensal de carne, seu maço de Mill diário e a    sua latinha depois do trabalho, pois também era filho de Deus. Já podia até sentir o bife duro dançando em sua boca, enquanto na TV o banquete era servido na novela das nove. Vinte reais por pouco mais de um quilo de carne vermelha e dura, enrolada em notícias de ontem de um jornal local. Não sabia ler, mas gostava das fotos. Elas encurtavam o longo trajeto percorrido a pé. Havia vendido a bicicleta para pagar a última prestação da geladeira e evitar a negativização do seu nome junto ao serasa. E seguiu caminhando distraído, até o momento em que o embrulho da carne começou a escorrer pelos dedos. Tentando limpar o sangue, levou um susto ao se deparar com uma foto um tanto quanto inusitada no pacote. Uma foto dele no jornal, exatamente no local por onde o sangue nascia. O jornal, a foto, o sangue. Nunca tinha saído foto sua em jornal algum, ou melhor, nunca aconteceu de se interessarem em tirar fotos dele. Absorto pelos acontecimentos, atravessou a avenida Higienópolis sem se importar com o mundo à sua volta, tentando processar a estranha ocorrência. Pensamento que foi interrompido pelo abraço do ônibus 307, que misturou tudo. Sangue e carne, do jornal e dele. Morreu sem saber que aquela era a edição de amanhã.  

Ilsson Siriani