28 de março de 2008

Semisustos


Depois de certo tempo, pareciam dois estranhos. Num encontro casual, semisustos de ambos os lados. Ele havia feito a barba, ela pintou o cabelo como sempre disse que queria fazer, mas nunca fez enquanto estavam juntos. No meio da multidão no bar, "tudo bem?", a troca de olhares quase proibida e não espontânea como antes. Haviam perdido a intimidade, ela não sabia mais dos livros que ele estava lendo, ele não sabia que ela finalmente estava fazendo as aulas de inglês. 

A música alta que vinha da boate impediu qualquer tentativa de diálogo, no passado talvez se tornasse mais uma das músicas deles, esta noite, nunca mais. O beijo frio no rosto decretou o fim do reencontro, triste e efêmero como a madrugada dos vagabundos. Qualquer dia alguém vai escrever esta história do jeito que cada um viu. Falar do amor que ele tinha, do medo que ela guardava, do ressentimento deles, da inocência sendo maculada pouco a pouco pela fórmula açucarada e grudenta dos dias que passaram, premeditando tudo como aconteceu hoje. Um carnaval mudo, sem estampidos nem confissões de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário