13 de maio de 2008

Desmantelar


Raramente protagonizaram cena tão sofrida, os dois fatigados pelos anos de convivência, finalmente vencidos, mas não poderíamos dizer que não havia mais amor ali. Cheios de aflições mútuas, ambos apresentavam diversas cicatrizes, marcas do que não foram ou do que poderiam ter sido, caso não houvessem preferido um outro caminho, que agora os colocava frente a frente, momentos antes da separação, ele com a mala pronta na porta do apartamento:

- Não dá mais, chega!
- Eu que o diga, meu caro. Acha que estou feliz assim, aguentando o seu destempero?
- Você é uma Santa? Como se apenas eu fosse o grande culpado de tudo, sempre! Cansei!
- Não te culpo por tudo. Na verdade só me culpo por ter me casado com você, maldita a hora!
- Culpa da tua mãe, que fez questão! Aquela vaca. Como eu fui burro!
- Pelo menos ela não é alcoólatra nem tem conta no bar!
- Estou indo embora, não quero mais olhar pra tua cara!
- Espera, não sai assim, está chovendo lá fora... Eu te amo, droga!

E ele disse que gostava dela como o diabo gostava do seu caldeirão, depois bateu a porta e partiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário