7 de março de 2014

Mundo pequeno


Cabisbaixo, acompanhava atentamente a procissão de formigas desfilando pelo bolo de chocolate esquecido em cima da mesa. Assustou-se ao perceber que faziam vários dias que ninguém aparecia para saber das novidades sobre ele. Se sentiu sozinho, mesmo não reconhecendo a solidão naquele momento onde as formigas devoravam seus restos, vieram à cabeça memórias de uma tarde de sábado, não haviam formigas e tudo era diferente. Ele não sentiu ressentimento pelo atrevimento das danadas e nem tinha razão para tal. As malfeitoras eram a sua única companhia no momento. 

Mas não estava louco a ponto de abrir-se com elas ainda. E talvez elas nem entendessem o que é solidão. Formigas estão sempre em bando, comem, trabalham e morrem juntas. Sempre. Isso seria a verdadeira essência de uma sociedade que subjuga a personalidade pelo bem maior, o sistema? Ou seria apenas um exemplo de amizade ímpar? Bem, formigas são formigas, andam juntas. A inveja naquele momento quase surgiu, talvez por medo de se descobrir sozinho. 

O pensamento que o dominou foi qual seria a visão de mundo das formigas? Qual a visão que uma formiga tem de nós, os seres humanos? Será que para elas somos enormes Godzillas, somente esperando a hora de esmagá-las com nossos acessos de cólera, ou apenas os grandes deuses que emanam o alimento do céu, em forma de migalhas de biscoito água e sal? Depois, guardou a água na geladeira e foi ver televisão.

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